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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Devaneio anônimo VII

Me recuso a permanecer,
a desejar retorno certo
às portas do lar.

Quem tem tempo,
a guarda na paciência
no canto torto
da sala
solidão.

Eu não guardo nada,
e por isso não espero.
Os pés sempre no ar,
quem tem esperança
permanece neste mundo;
é no vazio da distância
de uma passada a outra
onde eu me perco.

sábado, 26 de novembro de 2011

Devaneio anônimo VI

A passagem,
mundos distantes,
verdadeiro espelho,
realidade ou miragem?

A paisagem,
escadas infinitas,
pernas compridas
dos sonhos, a imagem.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Repent

I regret loving you too much
as much as I can regret
not loving you enough.

I wish I was stronger
enough to not hold on to you.
I wish I had held you
firmly (but gently)
enough for you to stay.

And I'm sorry for running away.
I'm sorry for not running to you.

So many things I did wrong.
So much you didn't do it right.

The things I said did matter,
but the ones I didn't say
could have made
all the difference.

I feel ashamed.
I feel guilty.
I feel lonely.

And most certainly:
I feel for you.

Thus I repent.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Terror II

Fumaça,
estopim,
ameaça,
é o fim.

Balas
ácidas,
falas
tácitas,
e a razão
vencida.

Surdos
a bufar,
curdos
a rufar;
infantes
imprudentes.

Os muros do castelo
são de areia, cedem.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Terror I

Cala-te e some,
apavora-te ante o peso
da farda,
do costume,
das convenções.

Abaixa essa cabeça,
mira apenas o chão sujo
de migalhas de sonhos alheios
devorados
pela impiedade
do imediato.

Dança ao bolero
das sirenes.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Porcelain skin

When you stare
steadily at my mask,
what do you really see?

The ornaments there,
standing at their task;

The surface aware,
never hesitating to ask;

Or the hollow rear,
guarding like a flask
the frail blood within me?

domingo, 30 de outubro de 2011

Noir (No_ar)

Um cigarro aceso
na inconstância
da melancolia,

as cinzas dispersas,
derramadas com desdém
como as lágrimas que sobraram
das paixões ora consumidas
pelo ardor do fogo
da ansiedade,
agora consumadas
pelo peso fatal do tédio e da dor,
trasmutadas em fragmentos
microscópicos de languidez;
o tempo e o remorso
pressionam impiedosamente
a brasa da saudade
sobre a frieza porcelanica do descaso,
assassinando o desejo saciado,
apagando a angústia e solidão,
erodindo vício e vida
das falésias do passado,
a desmoronar nas praias da memória.

A luz calada da madrugada
revela vozes tímidas a sussurrar
segredos nunca guardados
e histórias que se repetem
(sem fim).
O odor ébrio de anestesias,
garrafa e mente nunca vazias,
copo e corpo abandonados,
sujos e cansados, manchados
pela saliva densa e viscosa
de agonia rendida à sedução
hipnótica da insônia.

Imagens desconexas
de realidades inexistentes,
paralelas, imaginárias,
possíveis, alternativas,
improváveis.
Frases soltas como
pensamentos,
livres, mas errantes;
citações poéticas,
carentes e berrantes.

A expectativa latente
pelo impossível.
Uma fé inabalável
no inatingível.
Uma batalha eterna
por um brilho desconhecido.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

On your own


Out in the crowd,
a scream out loud;
still and silent,
ill and violent;
breaking cement,
branding relent.

Stand your ground

Don't turn
that fool head.
Do it, burn
what you had.

Dodge.
Counter.
Take cover,
do it over.

Let the odds strike
like thunder,
for when they roar
there's always storm.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

(When I think of you)


A lua de citrino,
não era olhos de felino
(ou de flerte,)
mas Pêndulo oblíquo
de serpente em transe,
tentador e penetrante.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Peekaboo

No time to weep.
The game is on,
it's hide and seek.

Sometimes a cat,
sometimes a rat,
but always a trap.

Our hearts at stake,
no winners at all.
An old hard mistake
to sinners at fall.

When logic fails
and lock us in a maze,
despair unveils
lost emotions in a haze.

And when you see
no more glimpse of hope,
don't stand, just flee.
(Until you are out
of sight).

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Ainda assim (Ainda sim)

É verdade.

Ainda
(assim)
penso.
Em você.

E penso:
"Será
que também
pensa
ela
em mim?"

E prefiro imaginar

Sim,
ainda
(sim),
pensa.

Ghost Love Score

"A siren from the deep came to me
Sang my name my longing
Still I write my songs about that dream of mine
Worth everything I may ever be."

Once...

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A Steve

Você nos aproximou
das máquinas
e de nós mesmos,
tornando nossas vidas
um tanto mais fáceis
e divertidas.

Obrigado.

24

All the hours in a single day,
all the years I've been through.

Yet, it seems to doesn't mean a thing.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Blank


[New file]

One more list:
of facts
and fiction,
of acts
and visions,
of deeds
and fakery,
small-talk
and gibberish.

One that doesn’t matter,
small and meaningless.

[Close file]

Acid rain


Gray are the streets,
gray is the mood,
gray as the rain,
grains of pure pain,
gay if I could,
away if I would,
in vain I remain.

It's all so lonely and cold,
but yet there's a small warmth
in the stillness of a lone heart.

Warm enough to not flinch.

Clouds of thought,
flood my veins
and corrode my nerves!

Please let me drown
in this liquid illusion
of happiness.

Please let me abandon this life.

Only then I can finally be free.

sábado, 1 de outubro de 2011

cinco menos quarto

Depois do leite morno,
anestésico,
do cigarro contorcido
no estalar aliviado
dos dedos do pé,

quando bate no fundo
da cabeça
a leveza pesada
e os olhos,
cansados como escravos
da mente,
sucumbem
ao destino,
o eterno sonho.

O corpo afunda
no lago calmo
da consciência,
onde a mente flutua
no menisco serene,
superfície da alma.

Me rendo,
me entrego ao nada.

Posso enfim partir
rumo ao Vazio.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

4:44

A luz indecente
da luxúria solitária
lambe meu rosto sujo
como cinzeiro-lixo.

Seu muco ácido
corrompe
meus sentidos,
dilata
meus vasos,
desloca
minhas órbitas,
abraça
meu descaso;
contamina minha água
com sua sedução solidária,
envenena o poço
dos meus minutos.

Mas a sujeira
que se acumula
sob as unhas,
dentro dos poros,
entre os dentes,
na fragilidade
das gengivas
é persuasiva,
perversa,
persistente,
se sente.

A indiferença
declarada
me conquista
rijo
sem nunca
sequer
me tocar.

Se quer.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Sobre o amor


Amor
é tão cliché
quanto a rima
à dor;

piegas
como mimos
mínimos;

brega igual
cartas floridas
em papel perfumado;

comum
em letras e cenas;

doce
como bombons
baratos;

o resquício, porém,
é amargo,
gosto residual
de morangos mofados.

Amor
é quente
como sangue
e frio
como a palma
da mão.

Uma palavra
apenas.

Prelúdio do fim,
interrompido,
para que se
complete
o meio
(a dois,
um inteiro).

Amor é...
mora.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

(sem título)


Já não há inspiração

ou sentido.

Não há dom ou talento;

não há poesia nos atos

nem arte nas palavras.

Só ponho essas mais no papel.



Como um olhar morto

de olhos mortos que o possuem,

guiados pelo dedo morto de uma mão morta

a vagar em horizonte morno.



Sem razão,

à procura

de qualquer

motivo.



Uma febre demente,

insana loucura

redundante.

Morbidez insólita,

crise.

Uma catástrofe

que é só

um problema.



Um corpo que se arrasta,

mais um dia apenas.

Esperando

procurando

algo

menos doloroso



Que o liberte

desse incomodo tedioso,

cansaço mortal,

solidão excruciante.



Uma dor,

várias dores,

(E a incerteza.)



O céu sempre nublado,

mesmo em dias de sol.

Sorriso nas faces...

(não na minha)

Um vento fresco

de ares pútridos.

E o Sol,

uma luz turva ante fumaças

escatológicas de incoerência.



A alusão ao vazio,

e o vazio intrínseco.

Penar de alma,

plenitude precoce

de um vácuo insolente,

Infinito mortal;

vendável como indulgência,

Analgésico anestesiante

Sabor desespero.

(março/2004)

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Devaneio anônimo V


A melancolia pelo prisma de âmbar.
A saudade refletida
em desenhos de criança,
iluminada pelo filtro ciano.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

haicai #110905


cama sempre quente
o coração ainda frio
outro dia que passa

Devaneio anônimo IV


Me flagelo pelo belo,
o que é certo ou errado,
a dor ao meu lado,
sempre perto do elo
entre meu eu e o que se faz
necessário.

domingo, 4 de setembro de 2011

Devaneio anônimo III


Quero esgotar o teu gosto
largado no teu leito.
respirar o teu rosto,
penetrar teu peito.

sábado, 3 de setembro de 2011

Devaneio anônimo II


Espreitando na ponta do pé
o mistério do abismo,
esperando uma conta de fé,
o critério de um sofismo;
a curiosidade urgente de saltar,
o desejo de afundar até os confins do infinito,
vagar enfim entre o feio, o belo e o indefinido.

Devaneio anônimo I


O susto e o suspense,
o sussurro do incerto
que ouriça os ouvidos,
desperta os pelos.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Da terra às cinzas (ao pó)


O meu cemitério
cheio de brancos e vermelhos,
todos vencidos,
consumidos,
alguns por inteiro,
outros nem isso.

E o meu fôlego morre pouco a pouco
com cada um que cai.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Mofe


Minha fome
não tem forma.
Minha fome
é enorme.
Minha fome
não é morna.
Minha fome?
O teu nome.

Minha fome
me consome
como mofo.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Em algum lugar do passado


Às vezes desejo resgatar momentos, lembraças, hábitos. Madrugadas frias de pão e vodca, manhãs claras de insônia, tardes suadas de prazer, ocasos deprimentes de nostalgias inexplicáveis.

Tenho sentimentos que não sei descrever, sensações que não consigo dizer seus nomes, impressões que não sei de onde vêm. Queria poder entender, poder explicar. Mas às vezes a única coisa que sei é que tenho saudade de coisas que não sei o que são. Apenas saudades de um passado que sei que nunca vai voltar.

O calor de preguiça das tardes de sol claro - não tão quente, morno, ameno.
A cor fraca do céu azul, a sombra branca de nuvens transparentes, o verde vivo da grama.
O brilho da vida refletido na superfície da água.
O vento sempre presente. Ora uivante de paixão, ora brisa de carícia.
O som hipnotizante da música das cigarras.

Tive muitos momentos de solidão, de profundas tristezas que nunca consegui compreender. Sempre me senti sozinho e agi de acordo. Vivi sozinho, recluso em meu universo particular.

Em algum lugar do passado eu me perdi. Em algum lugar do passado eu pedi. Um futuro. Brilhante, talvez.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Mar

Me perco nas tuas ondas,
de idéias tão belas
que impulsionam com força
as palavras que comandas.

Sucumbo ao encanto
da palidez fantasma
que esconde os mistérios
de todas as almas
que sufocam
afogadas
dentro de ti.

Me encontro no brilho
opaco do teu humor
vitral,
no oblíquo das janelas
que encaram
o abismo,
e penetram
o profundo da dúvida.

E em hipnótico domínio
me tens, sugado
pelos cantos que ecoam
a arte,
a vida,
o grito eterno
dos poetas.

Envolto pelo cair
das marés, cujos giros
compassam em harmonia
com a Lua e suas fases,
me abandono em prazer
e me submeto a teus caprichos,
vivendo à deriva de tua mercê.

E quando me recupero
dos golpes da tormenta maior,
(a distância improvável)
quero a ti me fundir
no infinito;
a torrente dos meus anseios
a fluir como ímpeto destino
no delta do teu ser.

Um sonho eterno
de retorno,
de ser visto,
de abraçar-te com zelo,
de somar o meu sal
à tua água densa.

Um sonho infantil
de carícias
eróticas,
platônicas,
utópicas,
fantásticas;
um conto
de faz-de conta,
de um amor
impossível.


--
Esse eu dedico à languidez, aos corações serrados e costurados. Dedico a todos aqueles que já tiveram um porre para esquecer as dores do amor, da angústia, da vida. Mas acima de tudo, dedico a todas as minhas musas inspiradoras.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A ti

Queria que Adeus
não fosse mais
do que uma
palavra.

Minha esperança
se expressa
em minha prece

A Deus:
Atira novamente
em meu caminho
aquela que tiraste
de mim!

A ti, meu amigo,
meu pedido é perdão
por não reparar o perigo
em optar por solidão
quando me ofereceste
Amor.

Todas as canções de amor


Já não sinto o gosto do cigarro
Minhas papilas estão tão dormentes
Como eu

Tento expulsar o amargo do mundo
Na densidade do meu catarro,
Puro fel

E meus ouvidos só têm ouvido
coisas bobas e meladas...
Cadê você?

No meio de tanta ausência,
a meia luz das velas velhas
revela o sal em meus olhos.

Meus solos buscam calor
nos teu coros, que me coram
Como minhas notas buscam
em ti arranjos
Quero passar das linhas
e flutuar pelos espaços
com você.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Sobre paradigmas e sacrifícios


Queremos que tudo melhore, mas sentados no conforto de nossos sofás.
Queremos que o mundo seja um lugar mais limpo, mas sem sujar as mãos.
Queremos um mundo mais justo, mas não abrimos mão de nossas riquezas e luxos.
Queremos um mundo mais honesto, mas continuamos a mentir no Imposto de Renda, na fila do cinema, nas páginas de perfil.
Queremos mais compromisso por parte dos outros, mas não assumimos nossas próprias responsabilidades.
Queremos que nos amem incondicionalmente, mas esquecemos como amar.
Queremos respeito, mas mantemos nossos preconceitos e julgamentos.

Se realmente começa por nós, o que estamos fazendo?

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Recomeço

Outra semana
mais uma segunda.

Uma manhã, novo dia.
O temor de que o tempo avance.

Mais uma semana
outra segunda.

Um amanhã, novo dia.
O tempo de tentar, outra chance.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Paixão,

meu amor, é

I.
a costela tua
que perfura
a carne crua,
que costura
a minha tela;
é meu tule à toa
que se mancha
com tua cor,
sem que eu lute
contra costumes
teimosos
de tola dor.

II.
(Por ti sofrer
lentamente,
quiçá morrer
sem ar,
sem chão.)

III.
Corações partidos
- os teus, apóstolos;
os meus, a pústula.

IV.
Patologia da minh'alma,
regato de prantos intermitentes,
mais-valia de vida calma.

V.
O vazio da hora estagnada,
o ócio que corroe os ossos,
iminência fria da estocada.

VI.
Os lábios secos
de agonia pedem:
Oh, sábios ventos!
em sinfonia levem
o tormento vil
da memória
do saber
da história
dos meus nervos.

VII.
O que pregarão
do meu passado
no teu futuro.
Tudo que restou
dos meus atos,
o que se derramou.

VIII.
Chama de lembraça
- a que consome os anos
plenos de esperança;
crédulos, porém insanos.

IX.
Minha ausência
consumada
pelos caprichos
da Probabilidade.
A falta que sentirás
(sinto desde já).
Rezarás pelo meu retorno?

X.
Meu desejo
juntar-me
a Ti.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Particula(r)


Do caos ao acaso,
casos sem causa,
o eco do oco,
à minha casa
a linha do ocaso.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

do_ar [amor]

O fôlego que me falta,
quem roubou foi o beijo teu.


E desde então
veio morar em meu peito
o frio ar do vazio do leito.


Sôfrego anseio da volta,
o que restou do seio meu.

domingo, 7 de agosto de 2011

Um quarto da distância do que se foi

"Deitaram na cama e se abraçaram. Ficaram imóveis, em silêncio quase absoluto. Era possível sentir a pressa no som aflito dos casais de pulmões e corações e a tranquilidade da correria inerte da cidade.

Permaneceram na impaciência daqueles exatos onze minutos, na dúvida, na ansiedade, na saudade antecipada. Os corpos colados no calor constante da conveniência. Cada rosto se escondia no perfume do pescoço outro, como se quisessem gravar na memória a beleza daquele encontro. Os braços aplicavam uma força terna porém precisa, em tentativa pura, ingênua e sincera de eternizar aquele momento.

Uma única badalada do sino. O tempo havia acabado.

Levantaram, deram um beijo de despedida.

Não disseram nada, o silêncio havia falado por eles."


(Dezembro de 2010)

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Suspiro invertido

A melancolia terna e eterna que me acomete.
A solidão macia naquilo que se promete.
Eu nunca soube como estar só.
Só me resta jogar o velho pó.
Já não há nada mais aqui,
nas volutas do Tempo.
No espaço das voltas,
rastros de revoltas.
Arrependimentos
e saudades frias;
tristezas finas,
dores finais.
Lânguidez,
lamentos;
miragens
torcidas.
Vazios.
Asilo.
Um.




quarta-feira, 13 de julho de 2011

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Estamina #2


E meu corpo continua a tolerar os abusos cometidos contra ele.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Shh...

Será o silêncio melhor que mentiras?
Será o silêncio algoz da verdade?
O que será do meu silêncio? E do teu?

quarta-feira, 6 de julho de 2011

sábado, 18 de junho de 2011

Poema - Ex


Ex

Sou a espada tirada da pedra,
aquela que já reluziu um dia,
que carrega na ponta afiada da língua
as marcas das dores que causou,
das vidas que sorveu,
dos corpos que tocou,
de todo o sangue que por um momento
foi seu.

Sou a fria salvação para alguns,
intocável em um pedestal
de lendas e fantasias.
Mas a realidade é imutável,
sou ferro frio e pesado,
inflexível, uma lâmina.
A redenção é sedenta
e não sou justo ou benevolente.

Sozinho não faço nada,
parado não tenho serventia.
Anônimo ou desconhecido,
não existo,
mas na posse de quem mereça,
posso assistir grandes conquistas.

Que fique claro,
sou voraz como a mão
que me acaricia;
meu preço é caro,
é a dor que alicio
da alma que guio.

E embora eu brilhe ora ou outra,
o interesse que causo
e o apreço que recebo
têm a duração da minha serventia
a meus amos.

Nem toda admiração do mundo
é capaz de mudar o que sou.
Ninguém é capaz de suportar
meu peso por muito tempo.
Minha sede por sangue esgota
os ânimos e leva à loucura.
E quando os danos se tornam
incontroláveis, meu destino
é sempre o mesmo,
ser lançado ao fundo do lago.


Eu não sou o caminho para nada,
não sou o que esperam que eu seja.
Eu não sou Poder,
não carrego força alguma.
Sou o que sou,
um objeto que as vezes fascina,
esperando ser encontrado,
desejando sempre ser usado,
eternamente sonhando
com glórias e reconhecimento.
Uma espada sem bainha.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Um conto de fadas e de flores

Estou escrevendo uma pequena história sobre espiritualidade, encontros, desencontros, desejos, anseios, medos, aceitação, desapego, fé e que mais couber entre o divino e o mundano. Não é uma história sobre a Vida, nem a história de Uma vida, mas é uma história, e como história, ela fala sobre alguma vida.

Falando assim parece algo muito ambicioso ou pretensamente grande ou grandiosamente pretensioso, mas não é. Na verdade, é um pouco bobo! No fim, é uma história de amor... e de esperança, talvez.

Por enquanto eu a chamarei de "Um conto de fadas... e de flores".

Eu pretendo que seja uma "série", assim eu consigo escrever e ir soltando por "partes" ou "pedaços" (não quero chamar de capítulos, porque sugere certa linearidade e/ou organização).

Para começar, vou postar uma prévia de uma das partes, que nada mais é do que a introdução da protagonista feminina da série.

Parte I - Introduzindo a protagonista feminina

Ela era um belo exemplar de sua raça e carregava toda a graça de sua espécie. Um olhar distraído poderia injustamente julga-la igual a tantas outras. Os mais ignorantes poderiam até mesmo dizer que ela era "só mais uma". Mas ela não era, apesar de não saber disso.

Convivia sem reclamar com os demais. Sua vida não era ruim, mas tampouco era boa, era somente aquilo que ela havia se acostumado. O mundo para ela era tal qual o via: não havia nada além daquele lugar que os seus olhos conheciam, embora nunca conseguisse se lembrar de quando foi a primeira vez que aquela imagem ficou gravada em sua memória. Estava presa em um mundo que não era o seu, era um mundo qualquer, que estava alí, disponível, e por algum acaso ela o habitava. Todo o ar era uma gaiola, uma gaiola grande, mais ainda sim, uma gaiola e a linha do horizonte era o limite do seu reino. Nunca havia se questionado muito sobre sua existência, apenas continuava respirando como havia sido programada. Era tão livre quanto pensava, e nunca havia pensado na liberdade. Até esse dia.

Perdida em devaneios triviais sobre a água e a grama, começou a acompanhar o vôo hipnótico de um gafanhoto. Ficou uma eternidade olhando o gafanhoto até que se cansou e começou a observar o azul claro do céu da tarde. Logo estaria encantada e perdida novamente no bater das asas frágeis de um besouro. Passou uma vida inteira observando insetos a voar e sentindo o frescor que só as brisas podem oferecer. Nunca teve pressa para nada e com a mesma tranquilidade que sempre carregou, olhou para as nuvens, que se mexiam vagarosas com o vento a altitudes inimagináveis. E em um de seus devaneios, enxegou a forma genérica de sua espécie nas nuvem. Sentiu-se estranha, era como se estivesse enxergando a si mesma ali.

Depois dessa nova e desconcertante sensação de dúvida, a pergunta fundamental bateu os sinos da consciência na pequena capela de sua alma: "o que sou eu?".  Era como se tivesse despertado de um coma. Nada fazia sentido, apesar de tudo ser tão familiar. De repente, começou a estranhar tudo: aquele corpo, aquele lugar, aquelas idéias, aquele céu, aquela voz em sua cabeça que sempre havia falado, mas que só agora ela havia prestado atenção de fato.

Tudo o que havia ocorrido antes desse dia não passava de registros. Nunca teve certeza porque nunca teve uma dúvida. Agora com sua própria existência em dúvida, tinha uma única certeza: embora não soubesse o quê, ela sabia que precisava saber. Uma fome como nenhuma outra crescia dentro dela. Ela queria respostas e queria logo.

A paciência a abandonara. Ou seria o contrário?




Bom, essa é minha pequena prévia da apresentação da protagonista. Ela já tá bastante razoavelmente desenvolvidinha e já tem nome, mas eu só vou postar depois! Hahahahaha

Espero que gostem, embora eu acho que possa estar e soar algo bem cliché a lá livro pseudo-cult e filosófico que não passa de bordões de auto-ajuda baratos, maaas... não ligo, é o que tem pra hoje. E, francamente, não há como inventar algo novo desde a Bíblia (ou quem sabe, até antes), então se conformem com eternas releituras e adaptações dos arquétipos universais transvestidos em ídolos e heróis com os adornos das dores de cada geração.

Até a próxima.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Karma

"(...)And here I stand, a small and simple man...

(...) Am I mad?
I feel so void and cold.
Who can tell?
Who holds the stories untold?"

Because all you do in life comes back to you.

[Kamelot]

sagaz e mordaz...

Criei um outro blog, que terá a colaboração de um dos meus amigos mais antigos e querido, o Antonio:

sagaz e mordaz

É isso.

terça-feira, 7 de junho de 2011

poema - Pífio alívio leviano


Pífio alívio leviano

Como se mede o tédio?
O cansaço, o esforço?

São pelos calos nos dedos,
as dores nas costas,
os pêlos na cara,
ou a indiferença exposta?

Ser genial me aflige,
me assusta,
me intriga,
me cansa.

Será o medíocre
a medida certa?
A moeda exata?

Há menos gênios
do que cremos.
Somos quase todos
tolos.

O excepcional
é ser incrivelmente
normal.

Vá viver com isso.

(30/04/2011)

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Duvet




Bôa - Duvet


And you don't seem to understand
A shame you seemed an honest man
And all the fears you hold so dear
Will turn to whisper in your ear
And you know what they say might hurt you
And you know that it means so much
And you don't even feel a thing

I am falling
I am fading
I have lost it all

And you don't seem the lying kind
A shame that I can read your mind
And all the things that I read there
Candle lit smile that we both share
And you know I don't mean to hurt you
But you know that it means so much
And you don't even feel a thing

I am falling
I am fading
I am drowning, help me to breathe
I am hurting
I have lost it all
I am losing, help me to breathe



...para os momentos em que tudo o que você precisa é um pouco de conforto. Uma clássica para os momentos de melancolia.


A propósito, "duvet" é edredon... Boa viagem.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Poema rápido (sem título)

[sem título]

A dor dura
enquanto dói.

A dó dura
nem santo mói.

Amargura
tanta só destrói.

A cada lâmina,
a sua chaga.

Oh, Fé, conjura
o ânimo morto!

Querida Cura,
Tomai meu Corpo!

(7/5/2011)

terça-feira, 17 de maio de 2011

Poema - Resolução


Resolução

E quem diria,
cá estamos.
O que seria,
já restamos.

E o tempo não parou,
para nenhum de nós.
E o tento são armou
uma reserva, um pós.

Das revoluções sonhadas
às dimensões previstas.
Das evoluções sorteadas,
as diferenças perdidas.

Ante o plausível, o formidável.

Os desejos oportunos,
os medos sorrateiros,
as pelejas solitárias,
os anseios compartidos.

Tudo que passou,
o luto e a luta vencidos,
o mundo sagrou
o culto e a cura, merecidos.

Que se faça no momento
o garbo e a graça do memento.

Não há tempo para ser razoável,
Este é o ponto exato, inegável
da ação, da mão, do coração.

(23/04/2011)

sábado, 7 de maio de 2011

Um tributo às coisas nobres...

A lenda do herói e da princesa

O Destino nos uniu,
não seria diferente,
cada tino vital atraiu
a alma outra, carente.

Forças distintas, não opostas,
que se somam para cumprir
as razãos de nossas propostas,
os anseios do nosso existir.

Ainda assim éramos tão imaturos,
não prevíamos as pedras, os apuros.
Dotados de vontade, mas pequenos
inocentes, frágeis, tolos, ingênuos.

Crianças que sonharam
com seu grande lar perfeito,
de beleza, justiça e respeito.

Mas as divindades finórias
lançaram então sua chalaça.
Teste de fé às futuras glórias,
a provação e uma rechaça.

E o caminho que era certo,
exato, objetivo e previsível
foi partido ao meio, aberto
em dois, à mercê do possível.

Você teve que bater em retirada.
Sua angústia foi vencida pelo medo,
a iminência do perigo na alvorada.
Mas os lábios não calariam tão cedo.

Meu temor também foi enorme.
Depois de tanta pugna e fadiga,
tal partida inexplicada, sem nome
feriu como lâmina vil na barriga.

Nosso plano foi destruído
por quem havia nos únido.
Severa, crua e infalível punição
por nossa insolência e pretensão.

Não houve alternativa breve,
fomos obrigados a viver
com o que nos foi entregue.

Me refugiei no templo do Tempo.
Meu espírito adormecido por sete anos,
e meu corpo a envelhecer em novos panos.

Enquanto isso você fugia
de novos e velhos inimigos,
entre riscos e nostalgia.

Cresci sempre me preparando
para o momento ideal, definitivo.
E você o tempo todo lutando
por liberdade, ante o imperativo.

Eu, a vencer meus temores
em toda pequena batalha feita grande,
decisiva, real, necessária, importante.

Você a calejar seus dedos
em tanto confronto sangrento, cruel,
a ganhar cicatrizes e provar do fel.

Assim foi o despertar decisivo de cada alma infante.
A minha, em um homem correto, fiel, porém errante;
a sua, na mulher que carrega o guerreiro no semblante.

Mas a providência nunca falha
àqueles que vivem sem receios.
As deusas relançaram a malha
da Sorte sobre nossos anseios.

E sete anos mais tarde,
outra vez a chama arde...

Como um garoto que procura
dos seus dez aos seus dezessete,
sua força interna e sua bravura.

Como uma mulher que almeja,
dos seus quinze aos vinte e dois,
sentir o resultado de sua peleja.

Sete anos depois,
descobrimos;
não somos tão fracos
como pensamos,
nem tão fortes
como mostramos.

E voltamos a buscar, no amor e na cumplicidade,
a sabedoria, a coragem e a força necessárias
para que mudar este mundo seja uma verdade.

(A verdade se revela a quem fecha os olhos para vê-la.)

(7/5/2011)



*nerd mode ON*






sexta-feira, 6 de maio de 2011

Poema - Os dias vãos


Os dias vãos

Já andei muito por aí,
sem saber ao certo,
sem me decidir...

A toda hora eu caminho
por lugares esquisitos,
estranhos, até bonitos,
mas sempre os mesmos.

Tentei até atravessar,
andar do outro lado,
e a vista diferente
não me foi suficiente.

Cada passo contra o chão
parece esforço em vão...
Se não caminham comigo,
eu já não encontro os sentidos.

Parece que sempre foi assim
eu a fugir da minha vida
e ela a fugir de mim,
indiferente, atrevida.

Talvez estivesse ela também a buscar
alguém que a encontrasse.

(30/042011)

terça-feira, 3 de maio de 2011

Poema - Feira das vaidades


Feira das vaidades

Eu me canso do mundo
quando me atiro adentro
e me lanço no profundo
lodo sujo, fedorento.

Mentiras das mais toscas,
ridículas alegrias falsas.
Banquete para moscas,
cutículas, alergias, calças.

Mais banal que banana
gente boçal que não me engana,
pra tolo, burro e trouxa,
tudo que brilha é ouro, encanta.

Só eu não me contento com o que é vil?
O que não é puro não me toca.
Só eu que me atento ao que ninguém viu?

E será que adiantar reclamar,
sentar, escrever, divagar;
escrever versos tolos e rimar?

Admito minha culpa nessa história
em que tudo é sujo, é feio, é escória.
Não sou melhor que ninguém,
não estou e nunca estive aquém.

Também queria eu ser mais feliz,
ser seguro, como quem sabe o que diz;
dar mais cor à minha vida, ser pavão,
enfrentar meus medos, me gabar em vão.

Também sou eu vítima e culpado,
nunca a acreditar, vivendo atado.

Queria eu saber fingir,
mas continuo com a dor
e com ela fico a fugir
em busca do próprio amor.

(30/04/2011)

domingo, 1 de maio de 2011

Oi... de novo.

(AVISO: POST GIGANTE!!!)

Eu andei sumido, mais uma vez.
Desde que voltei, ou melhor dizendo, fui pra Piçarras, minha vida tem dado guinadas incríveis.
Fatos inusitados, alguns inacreditáveis, outros até surreais... ainda tá sendo difícil processar tanta coisa.
Muitos lugares, muitas viagens (literais e figurativas), muitas pessoas e muitas experiências...



Pra resumir bem sucintamente, resolvi me dedicar de coração à ocupação de desempregado. Nem imposto de renda eu fiz porque minha renda ano passado foi tão pouca que eu sou isento! Hahahaha...



Além disso, comecei o ano com muitos planos, a maioria é uma batalha diária para sair da idéia e colocar em prática. Andei fazendo alguns cursos, aprendendo algumas coisas, mas até agora confesso que ainda não apliquei praticamente nada do conhecimento que venho obtendo. Parece que eu voltei para um velho ciclo de estagnação, passividade e preguiça extrema.



Por outro lado, como eu já disse, algumas coisas surpreendentes aconteceram, ou melhor, estão acontecendo. Velhos (e importantes) laços que estão sendo reatados, e uma atividade que tenho levado a sério recentemente.



Hoje já posso afirmar sem receios: agora sou definitivamente o novo baixista da Berzek. A banda havia carinhosamente me convidado a me juntar a eles quando voltei da minha primeira temporada em Piçarras. A princípio eu seria como um substituto meio estepe/quebra-galho. Cheguei a tocar com eles algumas vezes, mas aí foi tanta viagem, festa, curso e compromissos que acabei sendo displicente com a banda. E então, o inevitável aconteceu: a vaga de baixista estava oficialmente aberta. Eu não sei se eu seria escolha mais lógica e sensata ou se eu deveria sequer ser uma escolha. De qualquer forma, a Berzek decidiu me dar essa oportunidade e carinhosamente reforçaram o convite para que eu fizesse parte da banda integralmente (com todas as responsabilidades, deveres e obrigações que isso implica). E é claro, eu não podia (nem queria) recusar.



Não foi porque me deram uma segunda chance, ou porque eu achasse que merecia (pelo contrário, nem eu acharia isso)... foi porque são meus amigos e eu os amo (sem viadagem). Foi mais do que isso: era uma oportunidade única, imperdível, de fazer algo que gosto com pessoas que gosto. Foi a chance que eles me deram e a chance que eu resolvi dar a mim mesmo de ser alguma coisa, de realmente me esforçar para conseguir algo, de levar alguma coisa a sério nessa vida, de realizar, produzir algo de fato. E depois de tamanho(s) gesto(s) de consideração e carinho, seria muito cretino de minha parte abrir mão dos meus e dos nossos sonhos por medo, insegurança ou egoísmo.



E agora eu estou, pela primeira vez em muito tempo, me dedicando de fato a alguma coisa. Me dedicando de coração mesmo... e corpo, mente e alma... e dedos, e calos e dores de cabeça. E ouvidos.



O mais engraçado, na verdade, é como isso tudo é maluco e como, de certa forma, isso é tanto um desejo que está se realizando, como é algo muito importante e significativo em minha vida. E isso eu só me dei conta semana passada, contando a uma pessoa muito querida como aconteceu minha entrada na banda.

Eu conheci a banda em meados de 2009, em uma fase terrível da minha vida... tinha acabado de terminar a faculdade, ainda estava sobrecarregado e estressado, tentando gerenciar meus planos daquilo que eu imaginava que seria minha vida dali pra frente, cheio de incertezas e inseguranças. Além disso, havia acabado de romper meu namoro também. Então digamos que eu estava uma caca só... não tinha vontade de fazer nada, estava sempre nervoso, frustrado ou deprimido. Poucas coisas me tiravam de casa, e poucas coisas me tiravam a cabeça dessa casa de maus hábitos e pensamentos. E uma delas foi a Berzek. No momento que ouvi a banda pela primeira vez, senti que os caras eram bons... senti que aquela música era boa, senti que aquilo era diferente. E a música foi me tocando cada vez mais. Confesso que no começo eu mal prestava atenção nas letras, eu ficava meio hipnotizado por aquele som tão belamente melancólico, mas ao mesmo tempo animador. Ouvir a Berzek ensaiando em tardes monótonas de sábado em um pequeno e agitado apartamento da Vila Madalena, deitado na cama (muitas vezes completamente desanimado e não raro de ressaca) foi algo que me fez muito bem.
Naquelas músicas eu tinha conforto, eu tinha esperança. Eu tinha encontrado um lugar onde minha dor foi compreendida e acolhida, ainda que de forma silenciosa e anônima. Depois que passei a prestar atenção às letras, percebi que realmente estava em um tipo de porto seguro, como se alí eu não tivesse problemas - ou tivesse, mas eles teriam menos importância ou fariam menos sentido.



Mas nessa época eu praticamente era só um "amigo da banda"... na verdade era mais "amigo de um integrante da banda". Depois comecei a ir em alguns ensaios e shows. E aí meio que sem querer (por ser "amigo da banda"), comecei a participar um pouco mais, gravando e tirando fotos dos shows e ensaios que ia. Cada vez mais eu começava a querer fazer parte daquilo, de forma mais ativa e integrada. E aí comecei a ter algumas conversas com meu queridissimo amigo e irmão Chu, vulgo baterista da Berzek. Chegamos a discutir algumas vezes sobre eu entrar pra banda como instrumentista de apoio (tocando sei lá, flauta, teclado ou qualquer coisa que o valha)... E as conversas começaram a ser mais frequentes... chegamos a conversar também sobre outras possibilidades, como inserir elementos eletronicos na música (samplers, loops, batidas) e também nas apresentações (projeções e vj). A idéia era sempre que eu fosse um plus na banda, um extra mesmo. Mas isso nunca passou da conversa, porque apesar de tudo, isso era algo que eu discutia exclusivamente com o Chu e, claro, essas idéias teriam que ser aprovadas pela banda. Depois do meu período de "revolta" e minha aventuras por terras sulistas, tudo começou a ficar mais nebuloso e indefinido. Ao mesmo tempo que isso ia acontecendo, eu comecei a realmente ficar amigo do Layon (vulgo vocalista/guitarrista/compositor/letrista/líder/frontman da banda). E com o perdão da pieguice, foi uma das melhores coisas que aconteceu comigo ano passado, ter conhecido de fato essa grande pessoa.



Bom, minha decisão em adquirir um baixo não tem nada a ver com a banda. Já faz alguns anos que eu venho pensando em aprender a tocar e então quando eu estava em Piçarras eu resolvi que ia comprar um baixo assim que chegasse com a grana que tirei lá. E foi o que eu fiz... e para qual não foi minha surpresa quando menos de uma semana com o instrumento na mão, me chamaram numa tarde de um sábado qualquer, para tocar, informalmente e sem compromisso, em um ensaio dos mais rotineiros?
Confesso que fiquei receoso e até enrolei para ir. Não sabia o que fazer, ou o que esperar desse convite... Mas no fim fui vencido pela pentelhação (digo, argumentação) do meu grande irmão e acabei indo.



E foi nessa tarde de sábado, aparentemente normal, como qualquer outra, que tudo aconteceu. Eu mal sabia tocar (não que eu saiba muito hoje) e acho que na verdade eu tinha medo era da pressão. Mas foi tudo bem legal, eu mais fui pra quebrar um galho mesmo, sem muita expectativa. E foi aí que rolou o primeiro convite.



Mas depois eu acabei vacilando... era tanta coisa, tanto lugar para ir, tanta festa, comemoração, tanto compromisso... e aí acabei voltando pra Piçarras, e aproveitei para fazer um retiro, o que prolongou minha estadia. E logo na volta passei o primeiro final de semana fora de SP, a trabalho e em menos de dois dias estava de novo pegando a estrada, dessa vez para outro retiro (com o Chu, diga-se de passagem). Eu sabia que estava andando na corda bamba, mas não tinha como evitar. E sinceramente, também não me arrependo do que fiz.



Então chegou o momento da verdade. Rolou aquela reunião de banda, pra resolver vários assuntos na verdade. E foi dito claramente: o xxxxx está fora, estamos sem baixista... "E aí Gá?". PUUUUUTZ... Eu sabia EXATAMENTE o que esse "E aí?" queria dizer. Só me restou fazer uma coisa: respirar fundo, pensar por aquela fração de milisegundos todo o sentido, peso e conotação que três sílabas tão curtas podiam carregar - aquele lapso entre as sinapses e o estímulo nervoso que faz os músculos mexerem, sabe?, e responder, sem tempo ou chance para hesitar "Tô dentro."



É claro que o que se seguiu foi uma longa conversa sobre responsabilidades, deveres, obrigações, compromisso e comprometimento, caráter, dedicação, seriedade, responsabilidade e maturidade... brincadeira, na verdade, foi tudo bem curto. Não havia muito a ser dito, todos sabíamos (inclusive eu) o que isso tudo significava. Mas teve uma conversa curta sobre prazos, claro.



Depois disso todos celebramos com um alegre, caloroso, amistoso (e nada gay, aviso) abraço em grupo, ou melhor dizendo, abraço de banda, hahahahaha.



E foi assim que tudo aconteceu... foi assim que eu me dei por conta de que de certa forma, eu sou um tipo de Scott Pilgrim... mas até o Scott conseguiu dar um rumo na sua vidinha de infinita tristeza, então eu também posso!



E é por isso que andei sumido daqui. Na maior parte do tempo, nem lembrava de dar as caras... quando lembrava, já estava com tanta preguiça ou tão cansado que acabei sendo negligente, de novo.



Eu ando treinando bastante. Na verdade, eu to chegando num ponto em que até eu mesmo estou me surpreendendo. Fazia tempo que eu não me dedicava sério a uma coisa, de pegar com gosto, vontade e afinco, de ir até os limites – meus dedos estão realmente calejando e já to atingindo níveis semi-insuportáveis de dor após sei lá, 5 ou 6 horas de treino. Além do fato de querer mesmo ser um bom baixista, eu quero ser o baixista da Berzek, e isso é dizer muita coisa! Sem contar o fato de que os caras, conscientes da minha incompetência (entenda: falta de habilidade) resolveram acreditar em mim e dar essa chance... duas vezes. Então eu não posso fazer pouco caso, afinal eu estou DE FATO fazendo parte de algo que gosto e que quis muito fazer parte. E acho que por hora essa vai ser a única responsabilidade que eu vou assumir: me tornar um baixista.



Então é isso, chega de chorumelas por hoje. Esse grande ficou post demais (hehe) só pra explicar o porque de eu ser tão vagabundo e de andar sumido.



Minha produção literária não vai de vento em popa, mas eu ando escrevendo sim, e na medida que achar coisas interessantes pra postar (ou simplesmente achar que se postar vai ser interessante, hahaha), eu dou as caras por aqui, então por favor, dêem uma olhadinha de vez em quando!!!



Beijos nos coraçõezinhos, meus queridos!
(Mano, eu to cafona hoje!)

quarta-feira, 2 de março de 2011

Poema - Horizonte


Horizonte

Abra os olhos, desperta.
Este novo raiar chegou, levanta.
Acorda, o sol cresce no horizonte.

Uma rosa desabrocha,
Em campos semeados por lágrimas,
De dor, raiva e tristeza.
Carregado por ventos de esperança,
Regado pelo sangue da incerteza.

Uma árvore cresce, ao lado da espada
E da cruz, fincadas na terra.
Essa terra, o novo solo fértil.

O estandarte, branco,
Nas mãos de um caído,
Iluminado por esse novo sol imponente,
Nos novos campos de trigo.

É esse o sonho, e a coragem de criá-lo.
A esperança de apalpá-lo,
O desejo de concretizá-lo.
Pois acorda, que o sonho nasce em ti.

As rochas, e nelas os vestígios
De uma batalha de punhos cerrados.
Corações em êxtase,
Enquanto o céu muda de cor
E nuvens se movem.

Olhos fechados, lábios incertos...
Balbuciam o sonho,
Oram por um novo amanhecer,
Agradecem a visão?

Águas passadas,
Ventos distantes,
O amanhecer se aproxima,
É real.

(19/12/2003)

terça-feira, 1 de março de 2011

Poema-devaneio - O Horror


Devaneio: O Horror

Não há lágrimas de desabafo,
lamento ou tristeza;
nem gritos de raiva,
dor ou desespero;
não há passeatas,
versos ou discursos
que possam manifestar
verdadeiramente
o que sinto.

A dor é minha,
é de todos e é de ninguém.
A Lei é do Homem,
e a Justiça?

Dos delitos mais simples
às consequências
das condições criadas
pela nossa hipocrisia particular,
por pseudo-necessidades,
por dor,
a única resposta que obtenho:
Somos todos animais.

Nossas instituições
são todas fraude.
Nossos anseios,
todos primitivos.
Nossa realidade,
verdades calcadas em mentiras.

Somos todos cegos
e surdos.
Mudos não,
e não mudamos.
Não calamos
e consentimos:
a vida é cruel.

Até que ponto vale
o Livre Arbítrio?
Qual a falha
de nosso programa?
Quem é o senhor
do Ser?

Pecado.
Criação do Homem,
não de deus.

A realidade é triste.
Somos todos mentecaptos,
falhos, deficientes,
incorrigíveis;
peças belas e defeituosas,
protótipos incompletos
de um sistema Perfeito.

Vivemos pela dor,
morremos por amor.
O Belo é vão
e o desforme tem valor.

Tome suas pílulas,
que a dor é excruciante.
Engane sua mente,
minta para seu coração,
mas tenha a coragem de assumir
que você também é horrível.

Tudo é um único Caos.

Minha mente é quimera,
Meu silêncio, um grito.

Grite pela vida.
(28/02/2011)