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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Devaneio anônimo XII


A fragilidade das folhas amarelas
escondia memórias e segredos
(de líquida vida passada)
transpostos nas fibras secas.
Esfarelavam ao toque imprudente
da curiosidade;
nos dedos, o pó do mistério
e fascínio penetrava as narinas
e os poros, despertando os neurônios
perdidos no transe da confusão.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Devaneio anônimo XI

O corpo dói na febre
que derrete os ânimos;
a carne, batida,
traz o gosto forte,
amargo, do martelo
da dor e má sorte;
os ossos, moídos,
liberam o cálcio
à terra, a morte,
desabar do castelo,
ruínas de paz e ócio;
os fluídos escoam,
dos orifícios vazam,
os ruídos de sujeiras
em bueiros ecoam;
o bicho, mole,
não resiste,
cai em desgraça.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Devaneio anônimo X

As pestanas,
duras,
não cedem
à tortura
de quem as mede.

Desespero quieto

A água impiedosa da chuva
atacava o tampo do lixo
a ímpeto ritmado, marcado;
rufando como tambores marciais
pulsando em uníssono com a marcha
dos fantasmas da madrugada.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Nós (O tempo)

O passado será uma história
mal-contada, um boato-ficção.
Um faz-de conta épico,
como cantam as fadas,
cheio de vezes fabulosas
sobre feitos que eram
fatos que nunca foram,
realidades fantasiosas.

O futuro era a ansiedade da promessa,
a agonia da ilusão, a miragem no deserto
do “viveram felizes para sempre”.

O presente é a porta aberta,
escancarada, sem fechadura ou chave,
à espera do improvável
retorno
daqueles que decidiram partir
um dia...

...é o espaço
entre as pernas,
entre os passos,
a vontade que flui
no tornar do compasso,
no desdobrar dos casos,
no riscar dos traços,
no desatar dos laços
entre nós.

Devaneio anônimo IX

Os dias passam
como traços ilegíveis
riscados por mão indecisa
em uma página indecente.

A morte prenunciada,
prescrita
em doses homeopáticas.