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terça-feira, 27 de setembro de 2011

4:44

A luz indecente
da luxúria solitária
lambe meu rosto sujo
como cinzeiro-lixo.

Seu muco ácido
corrompe
meus sentidos,
dilata
meus vasos,
desloca
minhas órbitas,
abraça
meu descaso;
contamina minha água
com sua sedução solidária,
envenena o poço
dos meus minutos.

Mas a sujeira
que se acumula
sob as unhas,
dentro dos poros,
entre os dentes,
na fragilidade
das gengivas
é persuasiva,
perversa,
persistente,
se sente.

A indiferença
declarada
me conquista
rijo
sem nunca
sequer
me tocar.

Se quer.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Sobre o amor


Amor
é tão cliché
quanto a rima
à dor;

piegas
como mimos
mínimos;

brega igual
cartas floridas
em papel perfumado;

comum
em letras e cenas;

doce
como bombons
baratos;

o resquício, porém,
é amargo,
gosto residual
de morangos mofados.

Amor
é quente
como sangue
e frio
como a palma
da mão.

Uma palavra
apenas.

Prelúdio do fim,
interrompido,
para que se
complete
o meio
(a dois,
um inteiro).

Amor é...
mora.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

(sem título)


Já não há inspiração

ou sentido.

Não há dom ou talento;

não há poesia nos atos

nem arte nas palavras.

Só ponho essas mais no papel.



Como um olhar morto

de olhos mortos que o possuem,

guiados pelo dedo morto de uma mão morta

a vagar em horizonte morno.



Sem razão,

à procura

de qualquer

motivo.



Uma febre demente,

insana loucura

redundante.

Morbidez insólita,

crise.

Uma catástrofe

que é só

um problema.



Um corpo que se arrasta,

mais um dia apenas.

Esperando

procurando

algo

menos doloroso



Que o liberte

desse incomodo tedioso,

cansaço mortal,

solidão excruciante.



Uma dor,

várias dores,

(E a incerteza.)



O céu sempre nublado,

mesmo em dias de sol.

Sorriso nas faces...

(não na minha)

Um vento fresco

de ares pútridos.

E o Sol,

uma luz turva ante fumaças

escatológicas de incoerência.



A alusão ao vazio,

e o vazio intrínseco.

Penar de alma,

plenitude precoce

de um vácuo insolente,

Infinito mortal;

vendável como indulgência,

Analgésico anestesiante

Sabor desespero.

(março/2004)

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Devaneio anônimo V


A melancolia pelo prisma de âmbar.
A saudade refletida
em desenhos de criança,
iluminada pelo filtro ciano.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

haicai #110905


cama sempre quente
o coração ainda frio
outro dia que passa

Devaneio anônimo IV


Me flagelo pelo belo,
o que é certo ou errado,
a dor ao meu lado,
sempre perto do elo
entre meu eu e o que se faz
necessário.

domingo, 4 de setembro de 2011

Devaneio anônimo III


Quero esgotar o teu gosto
largado no teu leito.
respirar o teu rosto,
penetrar teu peito.

sábado, 3 de setembro de 2011

Devaneio anônimo II


Espreitando na ponta do pé
o mistério do abismo,
esperando uma conta de fé,
o critério de um sofismo;
a curiosidade urgente de saltar,
o desejo de afundar até os confins do infinito,
vagar enfim entre o feio, o belo e o indefinido.

Devaneio anônimo I


O susto e o suspense,
o sussurro do incerto
que ouriça os ouvidos,
desperta os pelos.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Da terra às cinzas (ao pó)


O meu cemitério
cheio de brancos e vermelhos,
todos vencidos,
consumidos,
alguns por inteiro,
outros nem isso.

E o meu fôlego morre pouco a pouco
com cada um que cai.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Mofe


Minha fome
não tem forma.
Minha fome
é enorme.
Minha fome
não é morna.
Minha fome?
O teu nome.

Minha fome
me consome
como mofo.