Páginas

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Poema - Na flor da pele


Na flor da pele

Amo as delícias simples da vida.

O primeiro toque, áspero e profundo, o choque Físico.
O convite florido e penetrante à derme.
O calor que desperta interesse sobre os músculos rijos.
O contato que vira afago sutil aos sentidos.

As mãos acariciam toda superfície da pele,
Massageiam com força a nuca molhada.
Os dedos entre o emaranhar dos cabelos.

Trocar os fluídos da boca.
A tensão que se acumula.
O fervor do peito.

Os poros sensíveis.
As veias dilatadas.
O rosto corado.

(...)

Cuspir a saliva turva.

O deleite no canto de lábios levemente entreabertos.

O relaxamento da espinha.

Limpar o rosto com gosto.
Sensação de dever cumprido.

Pálpebras pesadas e o tato leve.
O sabor doce e amargo na língua.

Ombros caídos, soltos.
A desenvoltura absoluta do corpo.
O suspiro profundo, longo, bem dado.

A carne cansada relaxa...

- Amo as delícias simples da vida!

O prazer de um banho.
(Com sabonete de motel.)

Poema - Semana


Semana
(ou “a segunda”)

O que passou,
o doce que cozinhou
os empregos que procurou
e os trabalhos que fez
as mãos que apertou
as crianças que olhou
os jogos que perdeu
a voz que falou
as noites que não dormiu
os dias que não saiu
os cochilos eternos que tirou
as comidas que comprou
e as que preparou
o que comeu
e o que deixou de comer
os maços que acabaram
e os que pagou
as bitucas no cinzeiro
as tosses que tossiu
os bocejos que abriu
os suspiros que soltou
as camisetas que suou
e o que não calçou de meias
os banhos que tomou
curtos e longos
frios e quentes
as vezes que sentou
e as que se levantou
as conversas que teve
as notícias que ouviu
as besteiras que contou
as fofocas que trocou
as coisas que usou
as pessoas que amou
os telefonemas que deu
os que recebeu
e os que não atendeu
as desculpas que disse
as dores que sentiu
as bebidas que tomou
e as músicas que ouviu
e também as que tocou
as coisas que pensou
e as que sentiu
toda a louça que lavou
e o copo que derrubou
as calorias que gastou
e as que ingeriu.
o que permaneceu em seu corpo
as chuvas que caíram
os sonhos que teve
o que se perdeu
e tudo que quebrou
as viagens que não fez
as mudanças que não viu
o dinheiro que gastou
e o que não recebeu
o que não desenhou
o que tentou escrever
o que não conseguiu dizer
o que acumulou
o que se misturou
e o que tinha que ser separado

[trocou a toalha e os lencóis]

enfim
quantas vezes lavou as mãos

ao fim
o que resultou de suas ações

quantos passos caminhou
que rumo seguiu
o que carimbou no passado

o tempo que investiu
e o que vestiu nesse tempo

o que se transformou
e o que se dissolveu

as escolhas feitas
e consequências aceitas

as perguntas que abriu
e os pontos que não fechou
as confusões que causou.

[Devia ter pontuado direito
desde o começo.]

Os erros que cometeu.
As lições que aprendeu.

[As roupas que nunca lavou.
O doce na geladeira que estragou.]

O arrependimento que não teve.

Tudo o que aconteceu.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Ahn... oi?

Então né, acho que eu fui meio displicente, de novo. Já prometi tantas e tantas vezes que isso não ia acontecer e aconteceu de novo... eu to no meio de umas crises internas, por isso não tenho conseguido produzir nada, mas acho que não tem nada melhor pra enfrentar isso do que suar um pouco...

Enquanto isso não acontece, vou soltar aos poucos o que já escrevi antes e nunca publiquei. E vai ser isso. Abraços



Terna mente

Sua imagem ficou retida,
Uma miragem na retina.

Na boca, o gosto do ensejo.
Do beijo, a marca no rosto.

Nós a desatar.
Antes, entre laços,
As mãos agora
Lançam entre si
Acenos
Às cenas.

O que se foi
Aos que se forçam.
O que dói
Aos que se esforçam.

Orgulhos feridos
Entre outubros perdidos
E férias não organizadas.

Um tempo diferente,
Uma outra hora.

Ilustre ilusão,
Doce fantasia.
Do misto de mel e fel,
O azar da azia.

(28/11/2010)