Páginas

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Poema - Semana


Semana
(ou “a segunda”)

O que passou,
o doce que cozinhou
os empregos que procurou
e os trabalhos que fez
as mãos que apertou
as crianças que olhou
os jogos que perdeu
a voz que falou
as noites que não dormiu
os dias que não saiu
os cochilos eternos que tirou
as comidas que comprou
e as que preparou
o que comeu
e o que deixou de comer
os maços que acabaram
e os que pagou
as bitucas no cinzeiro
as tosses que tossiu
os bocejos que abriu
os suspiros que soltou
as camisetas que suou
e o que não calçou de meias
os banhos que tomou
curtos e longos
frios e quentes
as vezes que sentou
e as que se levantou
as conversas que teve
as notícias que ouviu
as besteiras que contou
as fofocas que trocou
as coisas que usou
as pessoas que amou
os telefonemas que deu
os que recebeu
e os que não atendeu
as desculpas que disse
as dores que sentiu
as bebidas que tomou
e as músicas que ouviu
e também as que tocou
as coisas que pensou
e as que sentiu
toda a louça que lavou
e o copo que derrubou
as calorias que gastou
e as que ingeriu.
o que permaneceu em seu corpo
as chuvas que caíram
os sonhos que teve
o que se perdeu
e tudo que quebrou
as viagens que não fez
as mudanças que não viu
o dinheiro que gastou
e o que não recebeu
o que não desenhou
o que tentou escrever
o que não conseguiu dizer
o que acumulou
o que se misturou
e o que tinha que ser separado

[trocou a toalha e os lencóis]

enfim
quantas vezes lavou as mãos

ao fim
o que resultou de suas ações

quantos passos caminhou
que rumo seguiu
o que carimbou no passado

o tempo que investiu
e o que vestiu nesse tempo

o que se transformou
e o que se dissolveu

as escolhas feitas
e consequências aceitas

as perguntas que abriu
e os pontos que não fechou
as confusões que causou.

[Devia ter pontuado direito
desde o começo.]

Os erros que cometeu.
As lições que aprendeu.

[As roupas que nunca lavou.
O doce na geladeira que estragou.]

O arrependimento que não teve.

Tudo o que aconteceu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário