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segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Cura


Cura

Sentou-se mais uma vez,
Igual a outras tantas.
Era diferente, sentia,
Apesar de igual.

Não chorou lágrimas contidas
Pois não havia mais.
Não abdicou da fúria,
Mas deixou o câncer consumi-lo
E depois o devorou.

Se alimentou lascivamente
Dessa dor pungente, cruel,
Viciante.

Dela se nutriu até satisfazer
Seus sonhos, seu medos.
Estava farto.

Olhava o mundo pelos mesmos olhos,
Sentia o frio e o calor pela mesma pele.
Ouvia as mesmas canções e ruídos.
Saboreava amargura e doçura com a mesma língua.

Sorveu tudo.
Deixou a chuva molhar.
Não correu, nem buscou abrigo.

Tragou cada cigarro
Como tragava o amor
Da boca de suas mulheres.

E então levantou.

Começou a caminhar
Com a mesma lentidão
Dos primeiros dias em que engatinhou.

Sentiu o cheiro do mundo
E sorriu.
Sorriu com o fígado,
O pâncreas e os rins.
Até o pulmão, cinza,
Sorriu.

Sorriu em um silêncio calculado,
Sem mexer um músculo
Dos lábios.

Limpou o rosto.
A cara suja da indiferença
Tornou semblante de avidez.

Cortou o que devia ser cortado.
Os dedos longos do abandono
Não o pertubavam mais.

Penteou o cabelo ralo
Que um dia ostentou loucura,
Rebeldia e medo.

Jogou velhos amuletos fora.
Não precisava mais deles.
E ornou-se com joías
Que julgou demonstrarem seu valor.

Sofreu um aperto no peito.
Decidiu que não seria o último,
Mas o primeiro.

Não tinha mais ilusões.
Seus medos ainda habitavam seu porão.
Mas resolveu abrir a gaiola que aprisionava
Seus sonhos.

(Queria voar
E estava disposto
A aprender,
Cair,
Levantar.

Plantou os pés no chão
Com convicção,
Precisaria deles para caminhar.

Conhecia a dura realidade
Do Mundo.
Bem como sua própria.

Havia encontrado
O otimismo em sua arte.)

...

Deu o nome certo às coisas.

Ponderou,
Agradeceu.

Era o mesmo,
Mas não igual.

Sabia que nunca estaria pronto.
O pronto é o feito.
Ainda havia muito a realizar.

Era a hora.
Partiu.


Dedico este a todos os meus verdadeiros amigos, aqueles que prezo, amo, confio, confesso. Aos novos e aos antigos. Aos que ainda mantenho contato e aos que, por puro e simples relapso, não converso há algum tempo. Não preciso citar nomes, porque não é necessário. Vocês sabem quem são, o quanto os admiro e o quanto são importantes - vocês são parte do que sou. Tomei a liberdade de inserir algumas referências, não é difícil reconhecer - algumas são bem literais, por assim dizer...

(Claro, não citei nomes também porque minha cabecinha é débil e não quero cometer injustiças nem bajular ninguém. E também porque quero ver pessoas fazendo doce! Hahahaha, eu sou mal.)

É isso. Abraços. Beijos. Sonhos.


Ps: não se sintam ofendidos, não ESCREVI para vocês, apenas dediquei, mas espero que puxar um pouco vossos sacos acomodados me renda algumas visitas. Ok, agora eu que to fazendo doce... Oh God.



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